Já tinha ouvido este termo antes, mas não dei muita atenção para ele. Higiene Digital. O que é isso? Do que vive? Onde está? Por que é importante? E, principalmente Higiene Pessoal: controlamos ou somos controlados?
Comecei a pensar sobre isso quando depois que terminei mais uma turma de treinamento de profissionais de vendas onde pude perceber o impacto – negativo – do digital sobre o trabalho.
Não, não foi com a turma em específico. Mas o que conversamos me levou a pensar que a maioria das pessoas considera o celular não como apenas uma ferramenta, mas sim como uma extensão do corpo, da mente e da identidade.
Trabalhamos, estudamos, nos informamos, compramos, vendemos, interagimos, nos posicionamos e buscamos validação social por meio de telas e conexões.
Então, diante de tanta presença digital, é que surge a minha dúvida: quem está no controle — nós ou os dispositivos?
Higiene Digital: controlamos ou somos controlados?
É a partir dessa reflexão que emerge um conceito cada vez mais necessário no contexto organizacional: higiene digital.
Primeiramente, podemos definir a higiene digital como o conjunto de práticas conscientes e intencionais para manter a saúde mental, a produtividade e a qualidade das relações humanas diante da hiperconectividade.
Mas, este conceito ainda é pouco conhecido e não está no foco dos Gestores de Pessoas. Infelizmente.
A Higiene Digital tem a ver com aprender a usar a tecnologia como ferramenta — e não como dependência.
No contexto do trabalho, a higiene digital tem impacto direto em três dimensões:
- Saúde mental: reduz estresse, ansiedade, FOMO (fear of missing out), distrações e sobrecarga informacional.
- Desempenho profissional: melhora foco, atenção, entrega de tarefas, comunicação e qualidade da tomada de decisão.
- Relações humanas: favorece empatia, escuta ativa, respeito ao tempo do outro e convivência ética.
Por que a higiene digital é um tema urgente nas empresas?
Simplesmente porque precisamos resolver esta questão sobre quem controla quem. Ou seja, precisamos responder a Higiene Digital: controlamos ou somos controlados?
Isto porque a hiperconectividade, ou o tempo que as pessoas permanecem conectados seja no trabalho ou seja fora do trabalho tem gerado consequências preocupantes nas organizações. Entre elas:
- Esgotamento e ansiedade em função da hiperexposição, notificações, mensagens etc.
- Estresse em função da necessidade de serem multitarefa
- Dificuldade de manter a concentração em função do excesso de estímulos
- Sensação de que tudo é urgente
- Fuga para o descanso digital o que só acelera o ciclo de perda de foco, distrações, estresse, ansiedade, esgotamento etc.
Diante disso, o Gestor precisa se equilibrar sobre uma linha tênue entre intervir – às vezes, até buscando o consentimento para uma invasão de privacidade – e atuar com foco nas entregas e no desempenho profissional.
O jogo do tigrinho está invadindo o ambiente de trabalho? Seu colega está nas redes sociais “atendendo clientes”. Alguma pessoa está preocupada com suas apostas nas bets? Aqueles grupos do zap estão influenciando o comportamento?
Entendeu o que eu quero dizer?
Ações práticas de higiene digital
Como forma de chamar a atenção dos Gestores para este assunto, recomendo ler meus artigos anteriores sobre o impacto da hiperconectividade e sobre o dilema invasão de privacidade x atuação do Gestor.
Mas, como estamos falando sobre higiene digital, quero deixar algumas sugestões que podem ser praticadas, ou pelo menos, testadas pelos Gestores.
Ações para líderes e gestores de pessoas
- Educar ao explicar conceitos e práticas de higiene digital.
- Estimular reuniões presenciais ou com câmeras ativas
- Dar o exemplo do comportamento desejado
- Criar políticas colaborativas de uso da tecnologia: Em vez de impor regras, convide a equipe a construir acordos: por exemplo, “reuniões sem celular”, “respeito ao horário de almoço”, “responder e-mails apenas em horários combinados”.
- Respeitar o tempo fora do expediente não enviando e nem respondendo mensagens.
- Valorizar o FOCO como competência organizacional
- Observe o comportamento das pessoas e busque conversas 1 a 1
Ações para liderados e profissionais em geral
- Desative notificações não urgentes
- Estabeleça horários para checar mensagens
- Use modos de foco ou “não perturbe”
- Faça pausas reais, longe de telas. Vá tomar o café e deixe o telefone na sua mesa
- Cuide do sono digital
- Reflita mas antes de compartilhar algum assunto ou de responder para alguém
- Converse sobre o assunto com seus colegas
Equilíbrio e respeito: o coração da nova cultura digital
Praticar higiene digital nas empresas não significa vigiar ou controlar o comportamento das pessoas. Significa inspirar consciência e oferecer ferramentas para que cada indivíduo possa exercer sua autonomia com mais saúde, foco e clareza.
A empresa não deve invadir a vida pessoal, mas pode — e deve — promover um ambiente de trabalho onde seja possível viver bem, produzir com qualidade e se relacionar com respeito.
O trabalhador é uma pessoa inteira — com emoções, limites, valores e histórias. Quando a organização reconhece essa humanidade e cria condições para que ela floresça, todos ganham: o colaborador, o líder, a equipe e o negócio.
“Este texto – Higiene Digital: controlamos ou somos controlados? – foi elaborado pelo Prof. Paulo H. Donassolo especialmente para este blog.
Este texto foi escrito em português do Brasil. As palavras entre aspas são usadas para descrever figuras de linguagem ou termos que podem ser considerados polêmicos por alguns indivíduos. Eles não representam nenhum preconceito ou posição sociopolítico, filosófico, religioso, econômico ou ideológico.” SCI_030