Esta semana escrevi sobre o mundo estranho onde vivemos: conectados, mas isolados; viciados em bolhas, jogos ou influenciadores; ansiosos e à beira de um ataque de nervos. Mas, isso levantou a questão se isto seria uma invasão de privacidade ou cuidado.
Não sou psicólogo e nem especialista no assunto. Mas sou e trabalho com Pessoas. E com Gestores de Pessoas.
E é aqui onde reside a minha preocupação: como os Gestores podem ajudar seus colegas de trabalho neste mundo estranho e como este mundo estranho influencia o desempenho das atividades e os resultados no trabalho?
Depois de relacionar algumas dicas que, sob o meu ponto de vista, podem ajudar a responder a esta questão surgiu uma nova questão:
Minha dúvida:
– Até onde vai o direito do Gestor ou de um Colega em propor regras sobre o uso destas “tecnologias” no ambiente corporativo, sem ferir a privacidade e a autonomia das Pessoas?
Essa é uma questão delicada, que toca em temas sensíveis como liberdade individual, cultura organizacional, saúde mental, produtividade e o próprio contrato psicológico entre empresa e profissional.
É possível equilibrar esses dois lados? Como um líder pode atuar com responsabilidade, ética e empatia diante dessa nova realidade?
O contexto: estamos conectados, mas distraídos
Estudos de neurociência cognitiva e psicologia organizacional já demonstram os efeitos da multitarefa digital: interrupções constantes, queda no desempenho cognitivo, aumento do estresse, ansiedade e fadiga mental.
Além disso, o uso indiscriminado do celular durante o expediente impacta a colaboração, prejudica a escuta ativa, compromete o tempo de resposta e cria um ambiente fragmentado.
Invasão de privacidade ou cuidado? A fronteira entre o legítimo e o invasivo
Ao propor restrições ou orientações sobre o uso do celular, o gestor precisa entender que está lidando com uma zona cinzenta:
Problemas que podem surgir:
- Sensação de invasão da vida pessoal.
- Resistência cultural.
- Confusão entre confiança e controle.
- Desconhecimento das reais causas de distração.
Caminhos possíveis: o que pode ser feito de forma ética e eficaz?
Em vez de impor restrições, os líderes devem adotar uma abordagem de cocriação, educação e influência positiva, baseada em confiança, dados e diálogo.
Para tentar responder a este dilema da invasão de privacidade ou cuidado, sugerimos algumas ações práticas:
1. Crie um diálogo transparente sobre o tema
2. Adote políticas flexíveis e acordadas como, por exemplo, reuniões sem celular (a não ser em emergências), horários de “deep work” com foco total, espaços individuais de concentração etc.
3. Dê o exemplo como Gestor e Colega
4. Ofereça educação sobre bem-estar digital e higiene digital
5. Foque em resultados, não em vigilância, mais do que controlar o tempo ou o uso de celular, avalie os entregáveis, os prazos, a qualidade do trabalho e o comportamento colaborativo. Quando o foco está em resultados reais e transparentes, o próprio time se autorregula.
6. Ofereça suporte, não punição
Se perceber que alguém está claramente distraído em excesso, converse em particular, com empatia, tentando entender o que está por trás desse comportamento. Muitas vezes, há ansiedade, problemas pessoais ou desmotivação com o trabalho. Ofereça apoio, não apenas cobrança.
Não é sobre proibir, é sobre acompanhar e cuidar
A atuação como Colega ou Gestor, quando falamos dos vícios digitais versus atuação profissional, exige cuidado e sensibilidade para navegar entre dois mundos: o respeito à individualidade e a responsabilidade sobre a coletividade.
É possível preservar a privacidade dos colaboradores e, ao mesmo tempo, promover cultura de foco, atenção e presença. O X da questão está na forma: educar em vez de punir, propor em vez de impor, exemplificar em vez de apenas exigir.
Existe a necessidade do entendimento e do respeito à autonomia individual. Mas, isto não se opõe ao compromisso com o desempenho individual e coletivo.
Eles são forças complementares, que se equilibram por meio da escuta, da confiança e da liderança consciente.
Escuta, Confiança e Consciência: Será que é tão simples assim?
O que você pensa sobre isso?
“Este texto – Invasão de privacidade ou cuidado? Como ajudar. – foi elaborado pelo Prof. Paulo H. Donassolo especialmente para este blog.
Este texto foi escrito em português do Brasil. As palavras entre aspas são usadas para descrever figuras de linguagem ou termos que podem ser considerados polêmicos por alguns indivíduos. Eles não representam nenhum preconceito ou posição sociopolítico, filosófico, religioso, econômico ou ideológico.” SCI_029