Vivemos um tempo estranho: o relacionamento mudou. E isso é um desafio inesperado para os Gestores de Pessoas! Veja um exemplo: estamos mais conectados do que nunca e, ao mesmo tempo, mais isolados. Um sintoma disto? Ouvi ontem de um vendedor:
– Não gosto de falar com os clientes; aliás, eles não gostam de receber telefonemas. Preferem o zap, então eu não ligo para não “incomodar”.
Mas, não é só isso!
Vivemos no Brasil e, talvez, no mundo, uma nova forma de pandemia — não viral, mas comportamental: o vício nas bets, os jogos online como o “jogo do tigrinho”, a dependência emocional de likes e curtidas, e o apego incondicional a bolhas criadas por influenciadores digitais que estimulam a radicalização e o pensamento binário.
Esses comportamentos vêm se tornando não apenas um problema de saúde mental individual, mas um desafio organizacional. Eles afetam a convivência, o engajamento, a produtividade, a capacidade de trabalho em equipe, a comunicação e a cultura das empresas.
Sim, o relacionamento mudou. Mas o que está acontecendo com as pessoas?
Caso você não tenha se dado conta – ainda – os tais “algoritmos” são projetados para capturar e manter a atenção através da identificação de preferências, do reforço de padrões de comportamento e das recompensas rápidas (curtidas, prêmios, feedback instantâneo) — criando um ciclo contínuo de dopamina que se assemelha ao mecanismo de vício.
Jogos online, redes sociais e interações utilizam princípios psicológicos de gamificação para criar dependência. Influenciadores digitais polarizados reforçam bolhas de pensamento, estimulando indignação constante, disputas ideológicas e desconexão com o mundo real.
Se você trabalha com Pessoas e, principalmente, se você tem como responsabilidade a Gestão de Pessoas você precisa ter em mente que esta realidade pode prejudicar coisas como
- A Capacidade de foco e concentração prolongada
- A Resiliência emocional diante de frustrações e críticas
- A Autonomia e autorregulação do tempo
- O Relacionamento interpessoal saudável
- A Abertura à diversidade de ideias e à escuta ativa
- O Engajamento com metas de médio e longo prazo
O impacto nas empresas: um desafio para os Gestores de Pessoas
Do ponto de vista da gestão de pessoas, o impacto é direto. Profissionais que se tornam excessivamente dependentes de estímulos externos e recompensas rápidas tendem a:
- Procrastinar tarefas mais complexas ou longas
- Demonstrar ansiedade constante e dificuldade de priorização
- Ter baixa tolerância à frustração e ao feedback
- Exibir comportamentos impulsivos ou polarizados
- Apresentar ausências mentais mesmo estando fisicamente presentes
- Buscar distrações digitais em vez de resolver conflitos ou interações difíceis
É sério. Acredito que estamos diante de um problema que vai além da esfera pessoal já que este tipo de comportamento contribui para um ambiente de trabalho mais fragmentado, menos colaborativo e mais suscetível a ruídos de comunicação.
Ok, o relacionamento mudou e eu sou Gestor. O que eu devo fazer?
Em primeiro lugar, dar-se conta que O relacionamento mudou e que as pessoas mudaram.
Na minha opinião, um Gestor de Pessoas deve ser, acima de tudo, um Desenvolvedor de Pessoas. Ou seja, deve ajudar as pessoas a alcançar o desempenho esperado e a entregar resultados para todos os envolvidos (pessoa, equipe, empresa e clientes).
Por isso defendo que o Gestor ou o Líder deve estar, o tempo todo, atento ao comportamento das pessoas. Mas, então o que fazer?
1. Desenvolver uma escuta ativa e empática
2. Observar padrões de comportamento e mudanças repentinas
3. Promover educação digital e uso consciente da tecnologia
4. Criar rituais de desconexão e foco no ambiente de trabalho
5. Reforçar uma cultura de diálogo, pertencimento e propósito
Uma liderança mais humana para um tempo mais complexo
Liderar pessoas em um contexto como o atual exige mais do que técnicas de gestão. Exige presença, sensibilidade, inteligência emocional e capacidade de lidar com ambiguidade.
Os gestores precisam estar preparados para liderar em um mundo onde os desafios invisíveis — como o vício digital, a polarização comportamental e a fragmentação cognitiva — são tão ou mais perigosos do que os desafios explícitos de mercado.
Não se trata de paternalismo, mas de responsabilidade. Não é sobre controlar, mas sobre cuidar com sinceridade e com objetivos claros.
Os gestores de pessoas têm um papel decisivo nesse novo cenário: identificar, acolher, orientar e criar ambientes mais saudáveis e conscientes.
O futuro do trabalho não será apenas digital — será humano-digital, e os líderes que souberem equilibrar esses dois mundos serão os que conduzirão suas equipes com mais lucidez, empatia e resultados duradouros.
“Este texto – O relacionamento mudou – foi elaborado pelo Prof. Paulo H. Donassolo especialmente para este blog.
Este texto foi escrito em português do Brasil. As palavras entre aspas são usadas para descrever figuras de linguagem ou termos que podem ser considerados polêmicos por alguns indivíduos. Eles não representam nenhum preconceito ou posição sociopolítico, filosófico, religioso, econômico ou ideológico.” SCI_028